Geopolítica

O início da COP26: como foi o debate dos líderes mundiais

Líderes de mais de 120 países se reúnem para tentar entrar em acordo sobre problemas globais. Porém, especialistas veem uma grande chance da conferência não gerar os resultados esperados.

Boris Johnson, Antonio Guterres e Narendra Modi se cumprimentam na COP26
Karwai Tang - Governo do Reino Unido / CC BY-NC-ND

“Falta um minuto para a meia-noite e precisamos agir agora. A humanidade atrasou há muito tempo o relógio em relação às mudanças climáticas e se não tomarmos providências agora, será tarde demais”, disse Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, no seu discurso de abertura em Glasgow, Escócia, nesta segunda (01). Johnson também falou sobre o fim das usinas térmicas movidas a carbono, o reflorestamento até 2030 e declarou a missão de ajudar países em desenvolvimento a se tornarem mais sustentáveis. Entretanto, essas não foram as únicas pautas levantadas ou promessas feitas durante o primeiro dia que aguardamos ver se serão cumpridas.

Txai Suruí, ativista indígena de 24 anos, é a representação do Brasil no primeiro dia da cúpula

Sem Jair Bolsonaro, a fundadora do Movimento da Juventude Indígena em Rondônia, do povo paiter suruí da Amazônia, discursou pelo Brasil e pelos povos indígenas na frente de dezenas de líderes globais. Ela criticou as “mentiras vazias e promessas falsas” de diversas organizações sobre suas ações contra as mudanças climáticas. Além disso, a impressionante jovem, vestida com trajes tradicionais de seu povo, ressaltou a importância da inclusão dos povos nativos nas decisões sobre o meio ambiente. Além de falar sobre a necessidade de proteger ativistas indígenas que são mortos por defender seus direitos.

“A Terra está falando: ela nos diz que não temos mais tempo. Precisamos de outro caminho, com coragem e mudanças globais. Não em 2030, 2050, mas agora”.

Do governo atual, os brasileiros ouviram um anúncio do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, feito de Brasília, no dia 1º, sobre o novo plano de redução de emissões de gases do efeito estufa.

“Apresentamos hoje uma nova meta climática, mais ambiciosa, passando de 43% para 50% até 2030; e de neutralidade de carbono até 2050, que será formalizada durante a COP26”.

Promessas de Biden

O presidente estadunidense Joe Biden, em seu discurso, afirmou que “vamos demonstrar ao mundo que os Estados Unidos não estão apenas de volta à mesa, mas, esperançosamente, liderando pelo poder de nosso exemplo”.

Depois de Donald Trump sair do Acordo de Paris, a nação mais poderosa do mundo se distanciou de diversas questões relacionadas ao meio ambiente. Entretanto, com a posse de Biden, que voltou ao Acordo após assumir o cargo, o novo governo retorna a focar na pauta climática e vem fazendo afirmações ousadas em relação às suas futuras ações em prol do meio ambiente. Mesmo que, até o momento, os legisladores estadunidenses não chegaram a um consenso sobre o valor do pacote econômico, o qual já apresenta valor de US$ 555 bilhões, que será destinado a medidas contra mudanças climáticas.

Repreensão de países em desenvolvimento

Enquanto as grandes potências abrem a conferência com discursos bem escritos, ideias ambiciosas e falas de cooperação global, outros países seguem sem ver esses planos postos em prática.

“Já ouvimos tudo isso antes. O que precisamos é de uma ação. Não estou otimista de que será o suficiente", disse o presidente do Panamá, Laurentino Cortizo.

E ele não está sozinho. A primeira-ministra de Barbados, pequena ilha que pode ser submersa pelo aumento do nível do mar, Mia Mottley, e o primeiro-ministro de Antígua e Barbuda, Gaston Browne, também chamaram a atenção das nações mais poderosas e criticaram as medidas insuficientes dos governos.

Índia cria plano de emissão líquida zero que será efetivado tarde demais

O mundo precisa atingir até 2050 a meta de emissão líquida zero de carbono - recolher todo o carbono que será produzido para que ele não chegue à atmosfera - para que o mundo não vivencie o aumento da temperatura de 1,5ºC acima dos tempos pré-industriais.

No entanto, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, anunciou essa meta para o seu país até 2070. Uma década após o plano, já atrasado, da China.

“Foi muito mais do que esperávamos”, afirma Ulka Kelkar, diretor do programa climático do WRI India. "O Net-zero tornou-se um tópico do discurso público há apenas seis meses. Isso é algo muito novo para os indianos.”

De acordo com o diretor, não se pode comparar a meta da Índia com a de lugares como os EUA e a Europa por questões econômicas e energéticas: “Só ter esse conceito entendido na Índia já vai dar um sinal muito forte para todos os setores da indústria”.