NASA aponta que as queimadas na amazônia foram resultado do desmatamento
Ryan Barbosa
De acordo com o apontado pela NASA (Agência Espacial dos EUA), a maior parte dos incêndios ocorridos na Amazônia brasileira foram em áreas recentemente desmatadas, contrariando o que foi dito pelo presidente, Jair Bolsonaro, e pelo vice-presidente e chefe do Conselho da Amazônia, Hamilton Mourão.
Em um artigo publicado na última quarta (19), com o título “Vamos falar de queimadas”, Mourão não citou o desmatamento como motivo para o fogo na floresta. Pelo contrário, disse que muitos dos incêndios ocorridos são naturais - embora, por ser uma floresta úmida, tais incêndios, provenientes de raios, por exemplo, são extremamente raros- ou provenientes do uso de "balões de São João, fogueiras e queima de lixo".
No mesmo artigo, o vice-presidente ainda apresentou outras informações incorretas como a moratória do fogo de 120 dias e a Operação Verde Brasil terem contribuído para uma "redução de 7,6% das queimadas no período de 1º de maio a 31 de julho deste ano", algo não verídico. O que realmente ocorreu foi um aumento de cerca de 23% dos focos de incêndio em relação aos mesmos meses do ano passado.
“Pessoal, tem certas regiões aqui, focos de incêndio que vai existir quase todo ano, que é caboclo, é o índio que toca fogo. Se ele não tocar fogo, é a cultura dele, ele não vai comer, não tem nada o que comer ano seguinte”, afirmou falsamente o presidente Bolsonaro em uma live no dia 23 de julho deste ano, na qual o chefe de Estado acusou, inclusive, a imprensa de mentir.
Os dados divulgados sobre as queimadas e desmatamentos no Brasil são provenientes do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), instituição ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
A análise da NASA é baseada em uma nova ferramenta da agência, desenvolvida em conjunto com a Universidade da Califórnia em Irvine, nos EUA, e com a Universidade Cardiff, no País de Gales, que classifica os incêndios ocorridos na Amazônia. Tal categorização- queimadas ligadas ao desmatamento ou à limpeza de pasto, por exemplo- é feita a partir das características do fogo, como tamanho e comportamento. Queimadas ligadas ao desmatamento são maiores, duram mais tempo e apresentam colunas de fumaça grandes, por exemplo, diferentemente das demais.
A ferramenta faz o cruzamento com os dados de desmatamento do INPE para conseguir apontar possíveis incêndios relacionados a desmate.
Seus dados também demonstram que as afirmações de Bolsonaro e Mourão, além de não serem verdadeiras, são inverossímeis. “Há um notável aumento na atividade de fogo desde o início da moratória”, afirmou Douglas Morton, líder do laboratório de ciências da biosfera da Nasa, na análise. “Nós também vimos que uma grande quantidade de incêndios é claramente relacionada a desmatamento. Não são pequenas queimadas relacionadas à agricultura”, reafirmou.
A queimada faz parte do processo de desmatamento. Assim, após derrubarem a floresta, os desmatadores (criminosos) deixam a vegetação destruída secando para queimá-la durante o período da seca na Amazônia. Em outros casos, a vegetação situada abaixo da copa das árvores é derrubada a fim de aumentar a incidência de luz solar penetrando na mata, assim secando a matéria orgânica no chão, o que facilita ainda mais a ocorrência de queimadas.
Os pesquisadores da NASA também observaram concentrações de queimadas em áreas próximas às grandes rodovias, como a Transamazônica e a BR-163. Cientistas sempre apontam o papel de estradas na expansão do desmatamento e queimadas e, como mostra a análise dos cientistas da agência espacial americana, tal relação é facilmente constatável pela localização da destruição.
O lançamento da nova ferramenta ocorre em um momento crítico para a Amazônia, que já está em uma estação seca. Os focos de incêndios na floresta continuam seguindo uma tendência de crescimento. “Aparentemente, nós estamos caminhando para uma situação comparável à de 2019 ou até pior”, afirma, na análise, Paulo Brando, pesquisador da Universidade da Califórnia em Irvine que ajudou a desenvolver a ferramenta. “A preocupação é que se uma seca mais severa ocorrer e fizer com que a floresta fica mais inflamável, nós poderemos ver um dos piores desastres ambientais na Amazônia no século 21”, reiterou.