Mercúrio clandestino entra no Brasil para abastecer garimpo ilegal
Ryan Barbosa
A reportagem especial do Fantástico, no último domingo, (30) mostrou os efeitos do contrabando do mercúrio na Floresta Amazônica e alguns flagrantes das ações dos fornecedores dos garimpeiros.
A extração ilegal de ouro na Amazônia depende de uma substância altamente tóxica: o mercúrio, que pode ter efeitos de envenenamento de rios, e até mesmo ser prejudicial à saúde da população da região. E o que era antes uma atividade “artesanal”, feita por poucas pessoas e com poucos recursos, hoje em dia se tornou quase uma indústria com a instalação do crime organizado.
Embora a venda do mercúrio seja controlada no Brasil, toneladas da substância chegam ilegalmente aos garimpeiros todos os anos, segundouma investigação internacional feita antes da pandemia, que registrou os caminhos do contrabando.
A fronteira da Bolívia com a Rondônia, em Guajará-mirim é uma das duas principais portas de entrada de mercúrio ilegal no Brasil mapeadas pela reportagem. A outra é na fronteira do país com a Guiana, entrando por Bonfim, em Roraima, e acabando na terra indígena yanomami, onde ocorreu um aumento disparado do número de garimpos ilegais nos últimos anos. A situação do garimpo na terra dos yanomami ainda gera outros problemas, como o espalhamento da COVID-19 para os povos nativos Para saber mais sobre esse crescimento na pandemia, clique aqui.
O homem que fornecia mantimentos aos garimpos, que não quis se identificar com medo de retaliações, falou com os jornalistas do Fantástico. "O garimpo é um local sem lei. Já vi umas cinco ou seis pessoas morrendo. Ele quer saber de arrancar o ouro. Fica para lá resto de mercúrio, resto de óleo diesel, resto de gasolina. Tudo jogado no meio do mato e no rio".
A grande maioria dos garimpos ilegais na região de Itaituba, no Pará, fica nas terras do povo munduruku, sendo que há uma estimativa da presença de cerca de mais de 60 mil garimpeiros na região. De acordo com uma análise, feita pelo pesquisador Paulo Basta, das amostras de cabelo dos índios em três aldeias para medir o nível de contaminação por mercúrio, o problema é grande. "À medida que a equipe avançava para as aldeias que estavam mais próximas do garimpo, a situação que a gente via era mais grave, os índices de contaminação eram mais elevados", disse o pesquisador.
Na aldeia mais próxima do garimpo, 87% dos moradores possuíam nível de mercúrio no organismo acima do limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde. Alguns deles chegavam ao dobro do limite. “No mês passado começou mais uma fraqueza. Tenho uns cinco meses doente. Não posso levantar, só segurando", comentou Dona Irene, uma das mais atingidas.