Desmatamento

Exportação de carne bovina ameaça a Amazônia


Embora a economia brasileira foi duramente atingida pela pandemia do novo coronavírus e mais de dois milhões de brasileiros perderam seus empregos, a agricultura continua a florescer, e o país é o maior exportador de carne bovina do mundo, oferecendo carne barata para outros países. Enquanto isso, no Brasil, a carne chega a custar 45 reais por quilo.

O Brasil forneceu 43% das importações de carne da China em 2020, calculou a consultoria Safras & Mercado usando dados do governo, com as exportações de carne bovina ao país crescendo 76% no ano passado em comparação com 2019. A demanda voraz da China por carnes bovinas elevou as vendas brasileiras a níveis recordes - mas o boom tem um alto custo ambiental.

“Houve esse boom”, diz Thiago de Carvalho, professor de agronegócio da Universidade de São Paulo, destacando a qualidade da carne bovina brasileira e seu baixo preço depois que a moeda brasileira, o real, despencou no ano passado. “A carne brasileira está [entre] as mais baratas do mundo.” As vendas devem subir ainda mais este ano, à medida que a indústria suína da China luta para se recuperar da doença mortal da peste suína africana.

Quase 70% das importações de carne brasileiras da China vieram do Cerrado, a vasta região de savana tropical, e da Amazônia, em 2017, de acordo com a Trase (Transparência para Economias Sustentáveis), uma rede europeia que monitora cadeias de abastecimento. Cerca de metade do Cerrado e cerca de 20% da Amazônia brasileira foram desmatados para tal, com um impacto devastador nas regiões, agravando ainda mais o aquecimento global, tendo em vista que ambos são importantes sumidouros de carbono.

“A Amazônia forneceu cerca de um quinto das importações da China, mas, na verdade, é a metade do risco de desmatamento”, diz Erasmus zu Ermgassen, pesquisador da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, e um dos autores de um estudo sobre o impacto das exportações de carne bovina. “As exportações estão se expandindo para a Amazônia”, diz Zu Ermgassen. “Quando você aumenta a demanda no sistema agrícola brasileiro, você está empurrando a agricultura mais para dentro da floresta”, completa.

Embora a China ainda não tenha mostrado preocupação com a conexão entre as importações de carne bovina brasileira e o desmatamento na Amazônia, há pelo menos sinais de que seu governo quer cortar o consumo de carne, o que melhoraria a saúde pública e reduziria as emissões de carbono. Em setembro passado, o presidente Xi Jinping surpreendeu muitos quando disse que a China pretendia se tornar neutra em carbono até 2060.