Estudos apontam que desmatamento pode ser a causa de futuras epidemias
Aline Gabrielle
Mariana Vale, bióloga do departamento de Ecologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), juntamente com um grupo internacional de cientistas de que faz parte, vêm avisando sobre infecções que estão sendo disseminadas por animais que tiveram seus habitats naturais devastados.
Em sequência, o biólogo Lee Hannah, pesquisador do Departamento de Mudanças Climáticas da Universidade da Califórnia e também integrante do grupo internacional explica que o processo em que um vírus passa dos animais para as pessoas é chamado de transbordamento, e que ele acontece apenas em "bordas" de florestas.
"O transbordamento acontece quando as pessoas estão em contato direto com os animais. Esse tipo de contato acontece na borda da floresta. Portanto, à medida que destruímos a floresta e criamos mais bordas, aumentamos a oportunidade de humanos e animais interagirem e os vírus passarem da natureza selvagem para as pessoas", esclareceu Lee Hannah.
No mês de julho, Mariana e Lee, reunidos com 15 cientistas, divulgaram um estudo na revista internacional Science, o qual alertava que países com florestas tropicais que enfrentam intenso desmatamento possuem um grande potencial para ser palco de uma próxima pandemia, o que inclui a Amazônia brasileira.
Andrew Dobson, um ecologista britânico da Universidade de Princeton, que também assinou o artigo, apontou como conclusão que acabar com o desmatamento, principalmente em florestas tropicais - como a Amazônia e a Mata Atlântica, que abrigam cerca de 50% dos animais terrestres e, portanto, muitos vírus, é a única solução segura de os governos conseguirem prevenir possíveis epidemias.
“É apenas uma questão de tempo até que um destes vírus desconhecidos transborde para a população humana e cause uma nova doença”, afirma Andrew Dobson.
Indo de encontro a essa recomendação, as queimadas e os desmatamentos no Brasil em 2020 estão alcançando recordes de destruição. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o Brasil perdeu mais de 53 mil km² de mata nativa devido às queimadas, o equivalente a 34 cidades do tamanho de São Paulo. Os prejuízos desse desmatamento contínuo podem ser irreparáveis.