Era só um chocolate
Gabriela Brasil
O mundo vive em conflito com as ideias que a sociedade, ao longo do tempo estabeleceu, levando em consideração a evolução da moral e da ciência. Diante desse cenário, a escravidão, a qual é vista de uma maneira tão distante nos olhos dos desinformados, está mais próxima do que imaginam. O pior é que na rotina corrida do dia a dia, compactuam com esse sistema de trabalho forçado sem nem perceberem, logo já é hora de romper de uma vez por todas com essa prática através da educação, que segundo o grande líder Nelson Mandela, é a arma mais poderosa do mundo.
A forte presença do trabalho escravo infantil nas indústrias de chocolate se dá nas fazendas produtoras de cacau da África Ocidental, concentradas principalmente na Costa do Marfim, Gana e Mali. Nestes países, devido às ditaduras e questões de conflito interno, torna-se mais difícil a coleta de dados e ajuda às crianças submetidas ao trabalho forçado, uma vez que não existem dispositivos legais que acelerem o processo de denúncias das grandes empresas.
O protocolo Harkin-Engel, realizado em 2001, visava a erradicação dos processos escravistas envolvendo o cacau, devendo ser cumprido até 2005. Entretanto, esse acordo não foi cumprido por grandes empresas que desejavam ampliar as margens de lucro, tendo sido adiado três vezes. Segundo o Centro de Pesquisa e Opinião (NORC) dos EUA, foi registrado um aumento dos jovens menores de idade nas lavouras de cacau durante os anos de 2008-2009 e 2018-2019.
Considerando os dados mencionados e outras pesquisas, uma ação nos Estados Unidos acusa sete empresas fabricantes de chocolate de tráfico de crianças e exploração da mão de obra infantil. Dentre as empresas, destacam-se as gigantes Nestlé, Hershey's e Mars, sinal de que as condições escravistas ainda estão presentes no nosso cotidiano consumista. Em relação ao Brasil, algumas produtoras estão localizadas dentro do território, e dizem que há sistemas de monitoramento de direitos humanos, segundo a coordenadora do programa de defesa dos direitos socioambientais Julia Neiva. Então, essa negação entra em oposição com os dados levantados, colocando o mundo em mais um processo complicado em relação à erradicação do trabalho compulsório de crianças.
Tendo isso em mente, Henk Jen Beltman criou a empresa Tony's Chocolonely para comercializar chocolate sem a presença de trabalho escravo, ainda pagando salários acima da média para seus funcionários. Incrédulo com a supremacia do lucro ao invés das relações com o trabalho e empregado, Beltman mostrou que é possível lucrar dando um salário decente e tratando os empregados dentro das normas dos direitos humanos. A marca chegou na Amazon atingindo um grande marco para o mercado consciente sem crueldade, logo, o dono deixou claro que não pretende vender sua empresa para maiores, garantindo que o sistema correto de produção seja mantido sob sua vigilância.
Portanto, é imprescindível que os consumidores de chocolate se informem de sua origem e parem de comprar nas marcas que já foram confirmadas a presença em massa da crueldade do trabalho forçado fora das condições humanas. Mais uma vez o poder de fazer a diferença é depositado nas pessoas, através de uma mudança de comportamento devido ao conhecimento adquirido, dando força a ideia de que a população tem condições de melhorar o planeta trocando hábitos e comportamentos passados.