Cidade mais fria do mundo atinge 38 °C
Felipe Silva
No sábado (20), a cidade mais fria do mundo, Verkhoyansk, que já teve seus termômetros medindo incríveis 68 graus negativos, atingiu a temperatura de 38 graus positivos. Diversas cidades acima do círculo polar ártico também atingiram temperaturas próximas a essa devido a onda de calor avassaladora presente na região.
As altas temperaturas provocam incêndios florestais e podem estar associados ao surgimento de pragas, como as mariposas, cujas larvas devoram árvores na Sibéria. Elas se reproduzem mais rapidamente no calor, o que explica o crescimento nesta população. A onda de calor, considerada alarmante por especialistas, é um dos fatores levados em conta por estudiosos ao dizerem que 2020 deve ser o ano mais quente de toda a história.
"Em toda a minha longa carreira como especialista, nunca vi mariposas tão grandes e crescendo tão rapidamente", disse Vladimir Soldatov, em entrevista à AFP.
Como muitas cidades no norte da Rússia são construídos por cima do permafrost, um tipo de solo que se mantém permanentemente congelado, um aumento brusco nas temperaturas poderia fazer com que este gelo derretesse, instabilizando o solo e as construções acima. O presidente russo, Vladimir Putin, expressou sua preocupação em uma coletiva de imprensa, no final do ano passado.
"Algumas de nossas cidade foram construídas ao norte do círculo ártico, no permafrost. Se começar a descongelar, você pode imaginar as consequências que teria. Isso é muito sério", disse ele.

Infelizmente, as ondas de calor estão ficando cada vez mais frequentes - em junho de 2019 a Europa passou por uma onda semelhante, atingindo inesperados 45,9 °C, e a Sibéria sofreu com uma outra onda em julho do mesmo ano. O aumento das temperaturas são, segundo especialistas, fruto das mudanças climáticas, e já estão provocando alterações em nossos padrões de vida.
De acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a temperatura média global em 2019 foi 1,1 °C mais quente que a média de 1850 a 1900. Pode parecer pouco, mas o Especialista em Mudanças Climáticas do PNUMA, Niklas Hagelberg, explica que mesmo pequenas mudanças podem desencadear enormes eventos.
"A realidade é que este é o mundo em que vivemos com 1,1 °C de aquecimento. Esses recordes de temperaturas, ondas de calor e secas não são anomalias, mas uma tendência ampla das mudanças climáticas", diz Niklas.